Tarifaço de Trump: chanceler defende insistir nas negociações, mas ressalta 'vários instrumentos' à disposição
17/07/2025
(Foto: Reprodução) O chanceler Mauro Vieira durante participação na Comissão de Relações Exteriores da Câmara
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta quinta-feira (17) em entrevista ao Estúdio I, da Globonews, que entende ser preciso seguir negociando com os Estados Unidos a respeito da tarifa de 50% a produtos brasileiros, anunciada pelo presidente Donald Trump.
Responsável pela diplomacia do governo Lula, Mauro Vieira ressaltou, porém, que o país tem "vários instrumentos" à disposição para utilizar.
Entre eles, a chamada Lei da Reciprocidade Econômica — aprovada pelo Congresso Nacional e regulamentada nesta semana — e o acionamento da Organização Mundial do Comércio (OMC).
No último dia 9, Donald Trump assinou uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na qual anunciou a tarifa de 50% alegando, por exemplo, que os Estados Unidos têm uma relação comercial desfavorável com o Brasil.
Na verdade, segundo os dados oficiais, os EUA têm superávit, ou seja, mais exportam para o Brasil que importam em valor agregado.
Alckmin, Alcolumbre e Motta falam sobre tarifaço
Conforme o governo americano, a tarifa de 50% começará a valer a partir de 1º de agosto e, segundo relatos de fontes na diplomacia, os Estados Unidos ainda não deram sinais de que irão recuar.
"Nós estamos negociando, e a diplomacia prima pela negociação. Tão logo haja uma decisão final, nós temos vários instrumentos, como consultas na OMC, discutir o tema nas reuniões do Conselho Geral da OMC, a Lei de Reciprocidade - que está em vigor. Quer dizer, as alternativas são muitas, mas nós estamos, sobretudo, conversando. E já tivemos [...] 11 rodadas de negociações", afirmou Mauro Vieira à Globonews.
Ainda na entrevista, o ministro relembrou que ele mesmo conversou com o representante comercial da Casa Branca, Jamieson Greer, e que o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), conversou com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnik.
Governo envia carta pedindo negociação técnica do tarifaço
Nesta quarta (16), o Itamaraty e o MDIC informaram que Mauro Vieira e Alckmin enviaram uma carta a Lutnik e Greer na qual se disseram dispostos a negociar a tarifa de 50%, mas manifestaram "indignação" com o anúncio de Trump e cobraram resposta a uma outra carta, enviada em maio.
Nessa carta de maio, segundo o governo brasileiro, havia uma proposta confidencial sobre possibilidades de negociação de tarifas comerciais.
"A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países", afirmaram Mauro Vieira e Geraldo Alckmin na carta.
Participação de Lula nas negociações
Questionado se entende que o próprio presidente Lula deveria se envolver nas conversas com autoridades americanas, Mauro Vieira respondeu que o assunto está "bem encaminhado" sendo conduzido da maneira atual.
Em discursos e entrevistas, Lula tem dito que o Brasil quer negociar com os Estados Unidos, mas, ao mesmo tempo, tem reforçado que o Brasil é um país soberano e não aceitará ser "tutelado" por "ninguém".
"As negociações são levadas pelo governo federal no nível ministerial e com apoio de cada ministério da parte técnica. É assim que deve ser, é assim que sempre foi. E tem sido. O presidente [Lula] tem acompanhado de perto todas as conversas, tem mantido reuniões frequentes. Eu acho que está muito bem encaminhado na medida em que estamos conversando. Estamos esperando o posicionamento final do governo americano", declarou o ministro das Relações Exteriores nesta quinta.
