Conselheiro, celebridade e melhor amigo de cão: quem era o morador mais velho de Pratânia, que morreu aos 108 anos
18/07/2025
(Foto: Reprodução) Antônio Quessada, que morreu aos 108 anos, conta as memórias da vida em Pratânia (SP)
Uma pessoa extremamente ativa para os 108 anos de idade. Assim era Antônio Quessada, que morreu na tarde de quarta-feira (16) em Pratânia (SP), onde era conhecido e celebrado como o morador mais velho do município e um dos mais idosos do Estado de São Paulo. Com sua morte, vai embora também uma parte do estilo de vida que marcou a história do interior paulista.
Familiares e amigos ouvidos pela reportagem do g1 lembram, que mesmo centenário, Seu Antônio permanecia dirigindo a Parati branca com a qual se deslocava de um lado para outro da cidade, sempre em companhia do cachorro Pitoco.
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Um dos lugares que o pedreiro aposentado sempre frequentava era a Prefeitura de Pratânia. Tratado como celebridade, Seu Antônio logo era chamado pelas servidoras para posar para fotos com elas.
“Mesmo centenário, ele vinha para fazer algum serviço, pegar o carnê do imposto predial ou para conversar com o prefeito”, conta o diretor municipal de Comunicação e Eventos, José Carlos Aparecido Nunes.
Aliás, o prefeito Osmir Felix (PP) gostava de se aconselhar com o ilustre cidadão de Pratânia antes de iniciar alguma obra, principalmente no bairro da Pratinha, onde morava o idoso.
“O Seu Antônio dava opinião. Depois pegava o carro e ia conferir in loco as obras da prefeitura, como um fiscal mesmo. Era um cidadão fiscalizador”, revela o assessor de comunicação.
Como reconhecimento, o prefeito foi com a equipe até a casa parabenizar Antônio Quessada por ocasião do aniversário de 106 anos, dois anos atrás. Não podia faltar o tradicional cafezinho, preparado pelo próprio Antônio.
Antônio Quessada, com a Parati branca que dirigia ainda aos 108 anos, indo de um lado para outro e visitando obras da Prefeitura, em Pratânia (SP)
Lígia Quessada Corazza/Arquivo pessoal
De bem com a vida
“Ele era extremamente feliz, de bem com a vida, sempre com o jeito dele”, disse ao g1 a bióloga Lígia Carolina Quessada Corazza, uma das netas dele.
Ela conta que o avô fazia questão de morar sozinho na casa, no Pratinha, mantendo os cuidados diários e a rotina de dormir e acordar cedo. Não podia faltar a soneca depois do almoço - popular “sesta” entre os espanhóis, de quem Seu Antônio descendia.
“Todo dia era um sono de 40 minutos a 1 hora depois do almoço. Era um hábito que herdou do pai, que veio da Espanha, e que sempre mantinha. Meu avô dizia que ia ‘fazer o quilo’ ”, revela Lígia.
Passada a soneca, Seu Antônio não parava. Quando estava reunido com a família, lembrava-se das histórias que viveu e que se misturam com a história de Pratânia.
Uma delas foi trabalhar como cozinheiro para as tropas paulistas, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, lembrada anualmente no feriado estadual de 9 de julho. “A gente se reuniu no último feriado e ele contou essas memórias para os netos”, diz Lígia.
Até no nome Seu Antônio se diferenciava: conforme a neta, ele foi registrado sem o Gimenes no sobrenome, como ocorreu com alguns membros da família.
Nos últimos tempos, ele já não andava bem de saúde. Tinha sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) que afetou o lado direito. Mas foi uma forte pneumonia que interrompeu a trajetória do sempre ativo descendente de imigrantes espanhóis.
Durante o tempo em que permaneceu internado em hospitais ou em casa, não faltaram cuidados dos familiares e a companhia do inseparável cão Pitoco, que permaneceu sob a cama aguardando a recuperação do tutor. Mas o coração parou e Seu Antônio descansou.
“Ele foi um exemplo para nós”, afirma Lígia Quessada Corazza.
Com o inseparável cão Pitoco, que Antônio Quessada levava para todos os lugares que ia; animal permaneceu junto até o fim
Lígia Quessada Corazza/Arquivo pessoal
Seleto grupo
Seu Antônio integrava o grupo dos centenários brasileiros, que soma 37 mil pessoas espalhadas pelo país, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Estado de São Paulo, são 5.094 pessoas.
Por uma diferença de dois anos, ele não ultrapassou a marca dos supercentenários (a partir dos 110 anos), com 54 pessoas em todo o mundo.
Por conta da idade, ele foi personagem de diversas reportagens na televisão, entre elas a Caravana TV TEM 20 anos, quando passou por Pratânia em 2023.
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